Sustentabilidade

Composto de planta brasileira combate duas doenças negligenciadas

Pesquisadores do Instituto Adolf Lutz constataram que substâncias sintetizadas de molécula da canela-seca são capazes de matar os parasitas transmissores de duas doenças negligenciadas.

[Imagem: Ana Claudia Torrecilhas/J. P. Maçaneiro/Flora Digital]

Remédio para os mais pobres

Um composto natural isolado de uma planta originária da Mata Atlântica, popularmente conhecida como canela-seca ou canela-branca (Nectranda leucantha), pode resultar em novos medicamentos para o tratamento da leishmaniose visceral e da doença de Chagas.

Ambas são consideradas doenças negligenciadas, que afetam principalmente as populações mais pobres e, por isso, não atraem os investimentos da indústria farmacêutica privada.

Quem descobriu a substância da canela-seca foram pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, que extraíram o fármaco e, juntamente com colegas da Universidade Federal do ABC (UFABC), caracterizaram-no como pertencente ao grupo das neolignanas.

“Observamos que os compostos foram altamente potentes contra a Leishmania infantum, causadora da leishmaniose visceral, e o Trypanosoma cruzi, transmissor da doença de Chagas,” contou o pesquisador André Gustavo Tempone.

Juntamente com colaboradores de outros países, a equipe já conseguiu comprovar o efeito do composto sobre células do sistema imunológico e sintetizar 23 novos compostos derivados do extrato natural da planta.

“Uma das limitações no desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento de doenças negligenciadas é encontrar parceiros para fazer a síntese dos compostos promissores. A colaboração com o grupo da Universidade de Oxford possibilitou darmos esse passo,” disse Tempone.

Remédio simples e barato

Os pesquisadores pretendem, agora, otimizar os compostos, de modo a assegurar sua biodisponibilidade adequada no organismo. Essa etapa de avaliação da eficácia e segurança das moléculas é crucial para avançar para os estudos com animais, uma vez que mais de 90% dos compostos candidatos a fármacos testados in vitro (em células) falham nessa fase.

“Estamos otimizando os compostos por meio da química medicinal para que possamos aumentar a taxa de sucesso nos estudos em modelo animal. Mas os compostos que obtivemos já são protótipos bastante promissores para combater a leishmaniose e atendem às recomendações da DNDi [organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas]”, disse Tempone.

Uma das recomendações da iniciativa internacional é que os compostos promissores para o tratamento de doenças negligenciadas sejam fáceis de serem sintetizados. “A síntese dos compostos que estamos estudando é simples, feita em cinco etapas, e são baratos,” disse Tempone.

Fonte:Agência Fapesp

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